A família Dubrule deseja retomar o controle da Tok&Stok, enquanto a Mobly afirma que houve negociações secretas com outros acionistas para assegurar a aquisição de ações durante a Oferta Pública de Aquisição.
A Mobly (MBLY3) divulgou que recebeu uma carta dos membros da família Dubrule, fundadora da Tok&Stok, na qual eles negam qualquer tipo de acordo com acionistas da empresa de móveis ou com outras partes para a compra irregular de ações do Grupo Toky, que surgiu da fusão entre a Tok&Stok e a Mobly.
O comunicado feito nesta quarta-feira (23) é uma resposta ao documento apresentado pela Mobly no dia anterior (22), onde a empresa relata ter encontrado indícios de uma atuação coordenada entre os membros da família Dubrule e o Grupo XXXLutz, controlador da home24, que possui 44,3% das ações da Mobly.
De acordo com a Mobly, as negociações entre os Dubrule e a controladora alemã teriam como objetivo a aquisição, pela família fundadora, das ações que foram compradas pelo XXXLutz.
Segundo a Mobly, o problema é que a aquisição ocorreria em condições diferentes daquelas apresentadas no processo de OPA.
Na carta enviada à Mobly para contestar as alegações da empresa, os Dubrule se comprometem de forma “irrevogável e irretratável” a pagar a todos os acionistas da empresa de móveis o dobro do valor por ação que “eventualmente” poderia ter sido pago à controladora home24 para a venda de suas ações na OPA.
A Mobly afirma que, ao incluir esse compromisso na carta, a família fundadora da Tok&Stok assumiu um compromisso “inusitado e sem precedentes no Brasil”, de pagar em dobro aos acionistas da Companhia quaisquer valores que possam ter sido pagos ilegalmente à home24 e/ou a partes relacionadas a ela.
A Mobly considera isso “um claro desafio às autoridades brasileiras para que comprovem irregularidades decorrentes de pagamentos e transações realizadas no exterior”.
Desde março deste ano, a família Dubrule tem buscado retomar o controle da Tok&Stok por meio de uma OPA. A fusão entre as duas empresas aconteceu há menos de um ano, em novembro de 2024.
Os fundadores chegaram a oferecer uma injeção de R$ 100 milhões na Mobly caso a oferta avançasse, mas a empresa tem se mostrado resistente, apontando conflitos de interesse e irregularidades por parte da família Dubrule em relação às operações da Tok&Stok.
A Mobly declarou que as denúncias foram baseadas em uma investigação interna. O conselho de administração da empresa autorizou a diretoria a tomar as medidas necessárias nas esferas administrativa, cível e criminal contra os Dubrule.
Além disso, a Mobly anunciou que irá protocolar um pedido junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para cancelar a OPA e investigar as responsabilidades dos envolvidos.
Retorno dos Dubrule a Tok&Stok
Em agosto de 2024, a Mobly anunciou um acordo com a gestora SPX, que controla a Tok&Stok, para assumir o comando da empresa. Essa fusão resultou na criação de um grande player no setor de móveis e decoração, com uma receita anual estimada em R$ 1,6 bilhão.
No entanto, o acordo não foi bem aceito pela família fundadora da Tok&Stok, que decidiu recorrer à Justiça para contestar essa operação.
Em março deste ano, os fundadores apresentaram uma proposta para retomar o controle da Tok&Stok. A oferta previa a compra de mais de 122,7 milhões de ações a R$ 0,68 cada.
Entretanto, esse valor significava um desconto considerável de cerca de 50% em relação ao preço de mercado na época, uma abordagem que difere das ofertas habituais que buscam oferecer um prêmio sobre o valor das ações.
Além disso, a família propôs a remoção da cláusula de “poison pill” do estatuto da Mobly, que exige a realização de uma OPA quando um acionista atinge uma participação significativa na empresa.
Esforço pela OPA da Mobly
No início deste mês, os fundadores da Tok&Stok enviaram uma carta à Mobly propondo uma capitalização da empresa, condicionada à aprovação da oferta pública de aquisição (OPA) de ações dos acionistas minoritários.
Os acionistas Régis, Ghislaine e Paul Dubrule, que são os fundadores da Tok&Stok, se comprometeram a injetar R$ 100 milhões na Mobly caso a OPA seja bem-sucedida. Além disso, eles pretendem converter cerca de R$ 56,5 milhões em debêntures da Tok&Stok em ações da Mobly e capitalizar outros R$ 68,8 milhões em créditos que possuem contra a Tok&Stok.
Apesar desse compromisso financeiro, a Mobly continuou cética em relação à operação. A empresa expressou preocupações de que os acionistas que optassem por não aderir à OPA dos Dubrule poderiam ver suas participações diluídas.
Durante o processo, a Mobly revelou ter identificado um gasto indevido e recorrente por parte dos Dubrule desde 2013: um total de R$ 5,2 milhões foi utilizado ao longo dos anos para cobrir planos de saúde de ex-conselheiros associados à família fundadora. Esses pagamentos beneficiavam cerca de 30 pessoas ligadas aos Dubrule.
A Mobly notificou os ex-conselheiros para que suspendessem os pagamentos e restituíssem o valor integral em até cinco dias. A empresa destacou que esses gastos representavam um mau uso dos recursos e uma violação das normas de governança corporativa.
Além disso, a situação levanta um potencial conflito de interesses, especialmente se esses pagamentos não eram do conhecimento dos demais acionistas ou do conselho da empresa.
A decisão sobre a realização da OPA será tomada em uma assembleia geral ordinária e extraordinária (AGOE) marcada para o dia 30 de abril. A Mobly recomendou que seus acionistas rejeitem a proposta.

DifViral difviral@gmail.com
No DifViral você encontra as melhores dicas, notícias e análises de investimentos para a pessoa física. Nossos jornalistas mergulham nos fatos e dizem o que acham que você deve (e não deve) fazer para multiplicar seu patrimônio. E claro, sem nada daquele economês que ninguém mais aguenta.