O conglomerado não conseguiu evitar os efeitos da crise global no mercado de luxo, mas adota uma postura ‘vigilante e confiante’ em relação ao restante do ano.
Nem mesmo o maior grupo de luxo do planeta está imune à crise global que afeta os bens de consumo premium. O conglomerado liderado por Bernard Arnault divulgou os resultados de vendas do primeiro trimestre de 2025 nesta segunda-feira (14), revelando um início de ano difícil: nenhuma das suas divisões apresentou crescimento significativo.
Apenas o setor de relógios e joalheria — que abrange marcas como TAG Heuer, Bvlgari e Tiffany — registrou um modesto aumento de 1% nas vendas em comparação ao ano anterior.
Todas as outras áreas da holding francesa, incluindo as linhas de bolsas da Louis Vuitton e Dior, relataram uma queda nas vendas em relação ao ano passado.
Em nota à imprensa, a LVMH afirmou que permanece “vigilante e confiante” no início do ano, mesmo diante do cenário econômico e geopolítico instável.
O gole mais amargo da LVMH
Com uma receita total de 20,3 bilhões de euros (R$ 134,7 bilhões) no primeiro trimestre de 2025, o grupo de Arnault continua a ser o líder no setor de luxo.
Entretanto, não há como negar que a desaceleração do mercado chinês e a incerteza econômica global impactaram os resultados.
- Um estudo elaborado pelo Business of Fashion (BoF) em colaboração com a consultoria McKinsey & Company, intitulado The State of Fashion: Luxury, indica que, nos próximos três anos, o setor global de luxo deve apresentar um crescimento anual entre 2% e 4% — um número um pouco superior ao de 2024, quando o crescimento foi cerca de 2%.
A divisão mais afetada por esse cenário foi a de vinhos e outras bebidas, que registrou uma queda anual de 9% na receita.
De acordo com a empresa, as vendas de champanhe caíram devido à normalização da demanda, enquanto as de conhaque enfrentaram redução na procura, especialmente na China e nos Estados Unidos.
É importante ressaltar que a indústria de bebidas alcoólicas, em particular a francesa, está diretamente impactada pela guerra comercial entre os EUA e a União Europeia.
Por sua vez, a divisão de moda e artigos de couro (especialmente as bolsas) viu suas vendas diminuírem em 4%. Essa redução pode ser atribuída à base de comparação elevada, uma vez que no primeiro trimestre de 2024 as vendas no Japão apresentaram um crescimento significativo.
No comunicado, a LVMH mencionou algumas inovações e novidades que já estão em desenvolvimento e que podem impulsionar o crescimento nos próximos meses. Entre elas, estão:
- O reinício da parceria com o artista Takashi Murakami, conhecido pelo sucesso das vendas com sua logomania colorida, após 20 anos;
- O lançamento da nova linha de cosméticos da Louis Vuitton, chamada La Beauté;
- As novas bolsas da Dior: Dior Toujours e D-Journey;
- As exposições artísticas na Ásia, incluindo a mostra The Christian Dior: Designer of Dreams em Seul e a comemoração dos 100 anos da Loro Piana em Xangai.
O segmento de perfumes e cosméticos manteve-se estável em relação ao ano anterior, seguindo uma política de distribuição seletiva. O grupo destacou as inovações nas linhas de maquiagem e cuidados com a pele, especialmente na linha Forever da Dior, como fatores importantes para o desempenho da marca.
Por último, a divisão de relógios e relojoaria apresentou novidades como a expansão da Tiffany, que adotou um novo conceito de loja inspirado na filial The Landmark, em Nova Iorque; o design Serpenti da Bvlgari, em homenagem ao Ano da Serpente na China; e o retorno da TAG Heuer como cronometrista oficial da Fórmula 1.
Um novo cenário para a moda de luxo
Na semana passada, uma mudança significativa no universo da moda de luxo alterou o panorama da indústria: a aquisição da Versace pela Prada.
Com essa transação, o conglomerado italiano busca conquistar uma vantagem competitiva em relação aos grandes grupos de luxo franceses, como o LVMH e o Kering, que é proprietário da Gucci.
“Analisando do ponto de vista empresarial, o Prada Group representa uma ameaça para o império da LVMH”, afirma Mariana Cerone, professora do hub de luxo da ESPM. “Miuccia Prada é, sem dúvida, uma estrategista; ela fortalece a tradição das marcas italianas ao integrar a Versace em seu conglomerado.”