Em janeiro, a MRV (MRVE3) apresentou uma prévia operacional “arrasa-quarteirões” para o quarto trimestre de 2024, destacando que, pela primeira vez, a construtora conseguiu gerar caixa não apenas em sua principal unidade, a MRV Incorporação, mas também em todas as suas subsidiárias. Esses resultados positivos impulsionaram as ações da empresa na época.
Na noite da última segunda-feira (24), o balanço do 4T24 confirmou esses números animadores: a companhia gerou R$ 371 milhões em caixa no trimestre, com fluxo positivo em todas as divisões, sendo R$ 263 milhões provenientes somente da MRV Incorporação.
Entretanto, outras métricas do balanço não atenderam às expectativas de investidores e analistas, resultando em uma abertura de dia negativa para as ações da MRV, que registraram uma das maiores quedas do Ibovespa, com uma desvalorização de cerca de 5%. Durante a manhã, no entanto, os papéis começaram a recuperar parte das perdas e conseguiram registrar uma leve alta no início da tarde. Por volta das 13h, as ações da MRVE3 apresentavam um ganho de 0,75%, alcançando R$ 5,39, acompanhando a tendência de alta do Ibovespa.
Prejuízo líquido maior que o esperado
Para o BTG Pactual, os resultados da MRV no quarto trimestre de 2024 foram considerados fracos, ficando abaixo das expectativas do banco em relação ao lucro líquido. Durante o período, a construtora apresentou um prejuízo líquido de aproximadamente R$ 250 milhões, enquanto os analistas do BTG projetavam uma perda de R$ 150 milhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado alcançou R$ 179 milhões, representando um aumento de 111% em relação ao ano anterior, mas ficou 47% abaixo da previsão do BTG. As perdas superiores ao esperado na divisão Résia, que opera nos Estados Unidos, foram apontadas como a principal razão para esse resultado negativo.
A Résia enfrentou uma redução de 4% em seu valor contábil, o que impactou as despesas da empresa. Além disso, houve um efeito adverso devido a um aumento no imposto de renda relacionado à reversão de benefícios fiscais nas operações americanas. Vale destacar que a divisão Résia tem sido uma preocupação constante no balanço da MRV. A empresa está passando por um processo de reestruturação com o objetivo de reduzir sua alavancagem financeira.
Receita líquida e margem bruta também deixaram a desejar
Para o Itaú BBA, os resultados financeiros da MRV apresentaram aspectos negativos, especialmente em relação à receita e às margens brutas. Os analistas apontam que as tendências operacionais não foram encorajadoras, uma vez que houve uma queda nas receitas devido a vendas reduzidas e a uma diminuição na produção de unidades, enquanto as margens brutas mantiveram-se estáveis em virtude da inflação.
O banco destacou que a receita líquida da divisão brasileira caiu 5% em comparação trimestral, totalizando R$ 2,2 bilhões. Esse resultado refletiu uma queda de 5% nas vendas, lançamentos constantes e uma redução de 7% nas unidades produzidas no mesmo período.
Em relação à margem bruta, o Itaú BBA observou que a cifra de 30,3% das operações no Brasil se manteve inalterada “mesmo com a lucratividade das novas vendas alcançando 34%”, segundo os analistas. A MRV atribui esse desempenho às expectativas elevadas em relação à inflação medida pelo INCC, o Índice Nacional da Construção Civil.
No quarto trimestre de 2024, a receita líquida total da MRV foi de R$ 2,38 bilhões, representando um crescimento de 22% em relação ao ano anterior, embora tenha ficado alinhada com as expectativas do BTG. A margem bruta ajustada totalizou 29,9%, um aumento de 250 pontos-base em relação ao ano passado, mas 40 pontos abaixo das projeções do banco.
Ação barata, mas cenário difícil
De maneira geral, o Itaú BBA avaliou o balanço da MRV como neutro, enquanto o BTG teve uma visão mais negativa, considerando-o abaixo das expectativas.
Os analistas do BTG ressaltam que, apesar de o valuation da MRV aparentar estar descontado, com um índice de 0,6 vez na relação preço sobre valor patrimonial (P/VP), a recuperação das margens no Brasil está se mostrando mais lenta do que o esperado. Além disso, as perspectivas para a empresa na Rússia estão se deteriorando, especialmente em função das altas taxas de juros nos Estados Unidos.
O banco também observou que a margem bruta da MRV praticamente não apresentou crescimento no quarto trimestre, já que a companhia ainda está registrando provisões para custos adicionais.
“Estamos planejando atualizar nosso modelo em breve, incorporando um cenário mais desafiador para 2025, pois acreditamos que nossas projeções atuais são demasiado otimistas”, afirmaram. O BTG mantém a recomendação de compra para as ações MRVE3, com um preço-alvo estimado em R$ 17.
A MRV (MRVE3) em 2024
Embora o desempenho no quarto trimestre de 2024 tenha sido considerado fraco, o ano como um todo foi positivo para a MRV Incorporação, a principal unidade de negócios da empresa. A MRV alcançou o maior volume de vendas líquidas da sua história, totalizando R$ 10 bilhões.
Além disso, a companhia registrou recordes históricos em Ebitda, com R$ 1,1 bilhão, e em receita operacional líquida (ROL), que atingiu R$ 8,5 bilhões. Adicionalmente, todas as métricas de guidance (projeções) estabelecidas pela empresa foram atendidas ou superadas:
