Com as recentes políticas protecionistas implementadas pelo governo Trump nos Estados Unidos, o cenário global está em constante monitoramento para entender como essas mudanças podem desencadear novas disputas tarifárias. Essas medidas têm o potencial de impactar as balanças comerciais e os fluxos de capital em diversas economias. Nesse contexto, quais são as expectativas para os investimentos estrangeiros diretos no Brasil ao longo deste ano?
Em linhas gerais, a elevação das tarifas anunciadas pelos EUA, que varia entre 10% e 50% para mais de 180 países, pode resultar em um aumento significativo na taxa média de importação, passando de 2,5% em 2024 para 16,5% em 2025. Essa mudança pode provocar uma drástica redução nas importações norte-americanas, estimada em cerca de US$ 800 bilhões — uma queda de aproximadamente 25% em relação ao ano anterior. Consequentemente, essa situação pode impactar o PIB dos EUA, com uma previsão de retração anual de 0,7%, conforme apontado pela Tax Foundation.
Embora ainda existam incertezas sobre possíveis retaliações por parte de outros países e os desdobramentos das negociações comerciais, a Organização Mundial do Comércio já projeta uma diminuição nos fluxos comerciais globais em pelo menos 1% neste ano.
Os efeitos dessas mudanças não se restringem apenas às importações e exportações. Um dos desdobramentos possíveis é a realocação dos fluxos de investimentos diretos entre diversas nações. Por exemplo, o aumento das tarifas para os EUA pode incentivar empresas que adotaram estratégias de “nearshoring” e “offshoring” a reconsiderarem seus investimentos e optar por estabelecer operações dentro do território norte-americano. Essa tendência pode ser caracterizada como “reshoring”, onde as empresas buscam minimizar os impactos das tarifas sobre as transações internacionais.
Assim, o Brasil deve se preparar para um ambiente dinâmico e desafiador no que diz respeito aos investimentos estrangeiros diretos, considerando as repercussões das políticas comerciais dos EUA e suas consequências globais.
Em um panorama global, conforme dados da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), os investimentos estrangeiros diretos alcançaram a marca de US$ 1,4 trilhão em 2024, representando um aumento de 11% em comparação ao ano anterior.
Entretanto, ao desconsiderar os valores provenientes das “economias conduítes” na Europa — países que atuam como intermediários para fluxos financeiros e oferecem isenções fiscais ou tributação reduzida — observou-se uma redução de 8% em relação a 2023.
Os investimentos direcionados a economias em desenvolvimento sofreram uma diminuição de 2% em 2024, totalizando US$ 855 bilhões. Na América do Sul, essa queda foi ainda mais acentuada, com uma redução de 16%, resultando em um total de US$ 117 bilhões.
Segundo os relatórios do Banco Central sobre estatísticas do setor externo, os saldos de investimentos diretos no Brasil alcançaram US$ 71,1 bilhões, apresentando um aumento de 13,8% em comparação ao total de 2023. Desse total, US$ 33,2 bilhões referem-se ao reinvestimento de lucros no país, enquanto US$ 11 bilhões correspondem a operações intercompanhias, que envolvem transferências da matriz estrangeira para suas filiais brasileiras. A entrada líquida em participação no capital foi de US$ 60,1 bilhões, com um crescimento anual de 13,7%.
Apesar do aumento da incerteza e da volatilidade, intensificadas por disputas comerciais globais, o Banco Central prevê que os investimentos estrangeiros no Brasil se mantenham estáveis em 2025, em torno de US$ 70 bilhões (o que representa cerca de 3,2% do PIB), impulsionados por uma expectativa de crescimento do PIB de 2,4% e uma Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de 3,4% para o ano.
Em uma análise mais abrangente, o BNDES divulgou recentemente um estudo sobre as perspectivas de investimentos no Brasil para o período de 2024 a 2028, abrangendo 22 setores da economia nacional. O estudo aponta que a média anual de investimentos esperada para o cenário-base é de R$ 639,1 bilhões (com uma expansão média de 4,2% ao ano), enquanto o cenário otimista projeta R$ 704,5 bilhões (com crescimento de 6,1% ao ano).
No cenário-base, 53,9% dos investimentos previstos são destinados aos setores industrial e de serviços (incluindo 31,8% em petróleo e gás, 24,9% em comércio, 10,4% em mineração e 6,9% em bens de consumo), enquanto os restantes 46,1% são voltados para infraestrutura (com destaque para energia elétrica com 43,4%, rodovias com 19,7%, saneamento com 12,3% e telecomunicações com 12,2%).
Para estimular esses investimentos, o Brasil já implementa políticas voltadas à expansão da capacidade produtiva e à absorção de novas tecnologias. Exemplos dessas iniciativas incluem o Novo PAC, a Nova Indústria Brasil e o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).
Além disso, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançaram recentemente o programa Investe Mais Estados. Este programa visa diversificar os destinos dos investimentos estrangeiros no Brasil e preparar os estados brasileiros para atrair recursos voltados a projetos sustentáveis. O objetivo é ampliar a participação em regiões além do Sudeste e Sul do país, que atualmente concentram mais de 80% das receitas geradas por empresas estrangeiras.
Em resumo, mesmo diante das incertezas e da volatilidade atuais, o Brasil continua a se apresentar como um destino promissor para investimentos estrangeiros com potencial para retornos a longo prazo. Setores como infraestrutura, energia renovável e tecnologia se destacam nesse contexto. O país também desempenha um papel importante na transição energética global ao atrair investimentos em fontes limpas como solar e eólica, reforçando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável.