Marcelo Gasparino tem compartilhado na plataforma detalhes sobre o processo eleitoral e já recebeu a terceira advertência da empresa.
Às vésperas da eleição marcada para esta terça-feira (29), a disputa pelas vagas no conselho de administração da Eletrobras (ELET3) se intensificou, com o LinkedIn se tornando um espaço para os conflitos.
O conselheiro Marcelo Gasparino tem utilizado a plataforma para compartilhar informações sobre o processo eleitoral e já recebeu a terceira advertência da empresa por ter publicado “dois documentos de natureza confidencial e sigilosa”.
De acordo com um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a infração ocorreu na última sexta-feira (25), quando Gasparino postou uma conversa com uma jornalista da Folha de S.Paulo na rede social.
Nas imagens compartilhadas, o conselheiro teria enviado diversos documentos à repórter. “Como a Folha de S. Paulo não removeu do ar a matéria tendenciosa que me menciona, peço que leiam a íntegra da conversa e tirem suas próprias conclusões”, escreveu ele.
A Eletrobras, por sua vez, considerou essa divulgação como uma “violação da cláusula que proíbe a divulgação de informações confidenciais e sigilosas”, caracterizando uma infração ética que poderia comprometer a reputação da empresa, conforme mencionado em um documento oficial.
As postagens de Gasparino no LinkedIn têm sido alvo de advertências desde o final de março, quando foi divulgada a lista dos candidatos aos cargos de conselheiros. O nome de Gasparino não estava incluído na lista, aumentando a pressão na disputa.
Após a divulgação das advertências, a Eletrobras confirmou que Guido Mantega desistiu de assumir uma posição no conselho fiscal da empresa. Rumores sobre a possível substituição da indicação do ex-ministro da Fazenda por outro candidato começaram a circular na semana passada.
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As mudanças na Eletrobras: um acordo com o governo
A assembleia de acionistas marcada para o dia 29 de abril votará um acordo que ampliará a participação do governo na gestão da Eletrobras.
Após essa votação, será decidido quem ocupará as vagas no conselho de administração destinadas aos acionistas privados. Atualmente, há 15 candidatos disputando 10 posições no colegiado.
Essa eleição representa a primeira grande reestruturação do conselho desde a privatização da empresa de energia, que foi concluída em 2022.
Em função de um acordo entre a Eletrobras e a União, o governo terá o direito de indicar três representantes no conselho de administração, que conta com um total de dez membros. Além disso, o governo poderá designar um dos cinco integrantes do conselho fiscal.
Para o conselho de administração, as indicações do governo incluem Silas Rondeau, Maurício Tomalsquim e Nelson Hubner, todos conhecidos por serem contrários à privatização da Eletrobras.
Por sua vez, a Eletrobras anunciou a lista dos indicados pelo atual conselho, mantendo 6 dos 9 conselheiros em seus cargos. A chapa é composta por:
- O consultor Vicente Falconi;
- Marisete Pereira, uma especialista do setor que trabalhou mais de 16 anos no Ministério de Minas e Energia;
- Felipe Dias, sócio da consultoria Viságio;
- O advogado Daniel Alves Ferreira;
- A advogada Ana Silvia Matte;
- A conselheira profissional Vanessa Claro Lopes;
- Carlos Márcio Ferreira, que tem passagens pela CPFL Energia, Energisa e Eneva.
Pedro Batista foi indicado para a vaga de preferencialistas.
A disputa de Gasparino na Eletrobras
Embora não esteja na lista oficial, Gasparino participa da disputa como indicado pelos acionistas Geração L. Par, Tempo Capital Principal, RPS e Clave.
Ele tem criticado abertamente as escolhas para o conselho e está fazendo campanha nas redes sociais, solicitando votos para si e para José João Abdalla Filho.
Gasparino começou a se manifestar nas redes sociais logo após a divulgação da lista de indicados. Naquele momento, ele publicou uma série de textos no LinkedIn intitulados “Por que sou candidato ao CA da Eletrobras”, nos quais relata situações envolvendo Pedro Batista e a conduta do indicado na empresa.
Em suas postagens, ele sugere a unificação das ações, enquanto critica Batista por ter participado de “todos os debates sobre a formação do preço de conversão de PNs em ONs”, apesar de se declarar em conflito de interesse.
“Percebi que havia um conselheiro com grande influência sobre os demais”, afirma. Ele também compartilha detalhes sobre a indicação de Ivan Monteiro como CEO em 2023.
“Fui contatado pelo conselheiro Pedro Batista, que me informou que o CEO seria destituído e que essa decisão seria tomada em uma reunião do conselho no mesmo dia. Às 20h, fui pego de surpresa não apenas pela demissão, mas pela escolha definitiva de Ivan Monteiro como novo CEO. É evidente que essas decisões já haviam sido tomadas em uma reunião anterior da qual não participei. Registrei minha discordância com o processo, mesmo que pessoalmente eu concordasse”, escreveu.
“A partir daquele momento, senti que ‘não teria uma vida fácil’ naquele conselho”, diz ele. As objeções levantadas por Gasparino não foram registradas nas atas.
As publicações feitas entre 23 e 26 de março resultaram na primeira advertência recebida por Gasparino da Eletrobras. De acordo com a empresa, o conselheiro publicou informações sobre dinâmicas internas e deliberações que “não refletem a veracidade dos fatos ocorridos e registrados em atas”.
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Pressão de todos os lados
Apesar das advertências, Gasparino continuou a fazer uma série de postagens no LinkedIn. Ele usou a plataforma para contestar a declaração do presidente do conselho de administração, Vicente Falconi, em relação à recomendação da Institutional Shareholder Services (ISS).
A ISS sugeriu que os acionistas considerassem votos em candidatos alternativos, incluindo Gasparino. Em resposta, Falconi argumentou que a empresa não concordava com essa recomendação, afirmando que ela “favorece desproporcionalmente os candidatos dissidentes”.
No dia 16 de abril, a Eletrobras emitiu uma nova advertência a Gasparino por causa da divulgação de informações confidenciais. A empresa também mencionou que ele estava espalhando informações e alegações falsas novamente.
A última publicação que gerou controvérsia, onde ele conversava com um jornalista, foi criticada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e essa crítica foi anexada ao documento da Eletrobras.
O site Sua Materia tentou entrar em contato com Marcelo Gasparino, mas não obteve resposta até o momento da publicação.